Postado por INEST em 26/set/2015 -
“O Brasil e os atuais movimentos migratórios” foi o tema do debate promovido pelo Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (INEST/UFF), na última quinta-feira, 24 de setembro, no campus do Gragoatá. Coordenado pelo professor Jonuel Gonçalves (INEST), o evento teve a participação de Helena Charmont e Natália Cintra, da Cáritas-Rio, do professor Fernando Brancoli, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio) e Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), e do capitão de mar-e-guerra Alexandre Violante, da Escola de Guerra Naval (EGN).
Iniciando o debate, o professor Fernando Brancoli afirmou que refúgio é um tema essencialmente internacional, mas que uma primeira dificuldade é diferenciar o refugiado do migrante, ou seja, aquele que se desloca por razões econômicas. Ele disse ainda que o fenômeno traz consequências políticas, jurídicas e sociais, e que é necessário que se ataque as causas do problema, e não apenas as consequências. Finalmente, alertou para o perigo de militarização e politização da questão, como vem ocorrendo em alguns países da Europa, como a Hungria, que vem usando as forças armadas para impedir a entrada de refugiados. Repudiou ainda a posição de um deputado federal brasileiro, que afirmou recentemente que, ao dar refúgio a pessoas atingidas pela guerra no Oriente Médio, o Brasil está “importando a escória do mundo.”
Alexandre Violante, que além de ser oficial superior da Marinha do Brasil é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos no INEST, relatou o resgate de 220 pessoas no dia cinco de setembro, no mar Mediterrâneo pela corveta Barroso, após alerta do Centro de Busca e Salvamento Marítimo italiano (MRCC). Ele ressaltou que a embarcação brasileira integra a força tarefa comandada pelo Brasil que atua no litoral do Líbano para evitar a chegada de armas àquela região. Segundo Violante, o comandante apenas cumpriu o que determinam diversas convenções internacionais, que colocam o resgate de pessoas entre as missões das marinhas.
As representantes da Cáritas, Helena Charmont e Natália Cintra disseram que a instituição, ligada à Arquidiocese do Rio de Janeiro, trabalha no acolhimento, proteção e inserção de refugiados e ressaltaram que essa é uma tarefa que deveria ser compartilhada pelo poder público, instituições internacionais e a sociedade civil. Para Natália Cintra, uma face perversa da questão é exatamente a diferenciação entre refugiados políticos e aqueles que se deslocam por necessidades econômicas, afirmando que na maioria das vezes, os problemas estão interligados. Elas explicaram que a legislação que contempla o tema – a lei 9474/97, embora promulgada na década de 1990, foi inspirada na Convenção das Nações Unidas de 1951e em itens da Declaração de Cartagena, de 1984, sobre Asilo e Proteção Internacional de Refugiados na América Latina, que ampliou os direitos daqueles que precisam deixar suas nações. Helena Charmont disse, porém, que aperfeiçoamentos ainda precisam ser feitos, com a inclusão de novas categorias de refugiados, como aqueles que sofrem discriminação de gênero, por exemplo.
Ao final, a plateia pôde fazer perguntas à mesa, para aprofundamento do tema e o professor Jonuel Gonçalves relatou sua própria experiência como refugiado e as enormes dificuldades que enfrentou, quando, em 1975, eclodiu a guerra de independência de Angola, seu país natal. Por isso, convocou todos para refletirem sobre a importância e atualidade da questão.